Encontros pela Paz


Uma das primeiras iniciativas do ainda Grupo de Impulso do Desenvolvimento Humano foi a promoção de uma série de palestras aptas a explicar a compreensão do desenvolvimento do mundo e do próprio ser humano na visão ampliada pela Antroposofia.

No primeiro Encontro, Josef David Yaari nos deu uma ideia do potencial que permeia um processo educacional, ressaltando o caráter libertador da Pedagogia Waldorf tendo como base científica a Antroposofia. Para ele, por meio do autoconhecimento o ser humano irá adquirir as ferramentas para transformar a sociedade em que vive.


Josef abriu sua exposição falando sobre o momento histórico vivenciado por Rudolf Steiner ao idealizar a primeira Escola Waldorf. "Steiner se inspirou, desde cedo, num método de observação da realidade experimentado por Goethe e lutou para demonstrar a necessidade de uma Pedagogia que pudesse dar novos rumos à sociedade". O palestrante ressalvou, ainda, o papel do professor enquanto agente capaz de formar o cenário propício para que os alunos alcancem seu próprio desenvolvimento. A função social de uma Escola Waldorf foi abordada dando ênfase nas necessidades atuais da humanidade. Para o convidado, os "Encontros pela Paz" surgem como um espaço para despertar os verdadeiros "encontros", e à partir dos anseios dos participantes viabilizar a construção e o fortalecimento de um impulso que combine autodesenvolvimento e transformação social. No final, uma plenária de discussões e encaminhamentos foi feita, assinalando o caráter plural e participativo do evento. 





















No segundo Encontro Cláudia Retz nos deu pistas sobre a Imagem integral do ser humano, sobre a quadrimembração de que falou Rudolf Steiner (o homem dotado de corpo físico, corpo etérico/vital, corpo astral/alma e Eu/espírito). Apresentou-nos a diferença do reino humano com os outros reinos da natureza, concluindo que o homem é o único ser capaz de desenvolver a autoconsciência e com isso moldar seu destino de acordo com a necessidade da época em que vive.

O Encontro foi aberto com uma canção onde todos participaram. Em seguida, sob a regência da palestrante foi entonado um Cânone. Depois do aquecimento, Claudia Retz iniciou sua exposição fazendo um breve histórico sobre a posição das ciências no contexto da humanidade. Para ela, a ciência natural teve um papel importante nos últimos tempos, principalmente quando pôde trabalhar a razão tendo o pesquisador assumido uma posição neutra em relação ao objeto de pesquisa. Mas agora, há uma necessidade de que a ciência volte a ser feita com vivências. Nesse contexto, o papel de Goethe foi lembrado pela palestrante, tendo sido ressaltada sua importância para as pesquisas de Rudolf Steiner. 

A palestrante falou sobre a quadrimembração do homem (dotado de corpo físico, corpo etérico/vital, corpo astral/alma e Eu/espírito). Apresentou a diferença do reino humano com os demais reinos da natureza (mineral, vegetal e animal), concluindo que o homem é o único ser capaz de desenvolver a autoconsciência e com isso moldar seu destino de acordo com a necessidade da época em que vive. Logo em seguida convidou os participantes a formarem grupos de discussões e depois a fazerem uma dramatização sobre os quatro reinos da natureza (mineral, vegetal, animal e humano). Após a encenação dos grupos, a "quadrimembração do ser humano" foi trazida de uma forma comparativa e integral.

Com a imagem integral do ser humano a palestrante deixou a mensagem de que na época atual, da consciência, o homem deve sair do papel de mero observador e passar a ser um ser atuante no meio onde vive, buscando a cada dia sua liberdade através do autoconhecimento.












Já Marina Calache, que presenteou a todos com uma exposição de extrema riqueza, permeada por dinâmicas, no terceiro encontro nos trouxe valiosas informações sobre o caráter trimembrado do ser humano (Pensar/ Sentir/ Querer). Depois de investigarmos nossa cabeça (sede do pensar), nosso tronco (sede do sentir) e nossos membros (sede do querer/fazer), concluímos que somos seres tripartidos no corpo físico, com polaridades (pensar/querer) interligadas pelo sentir. Aprendemos que temos o Pensar do Pensar, o Sentir do Pensar e o Querer do Pensar e o mesmo para o Sentir e para o Querer. 

Marina enfatizou que neste mundo terreno esses três âmbitos estão unidos por um envoltório físico, nossa pele, e que ainda assim apresentam-se, na atualidade, em evidente estado de desequilíbrio, ou seja, uma latente incoerência entre aquilo que se pensa, se sente e efetivamente se faz. Nossa tarefa é mantê-los equilibrados aqui, na Terra, para que no mundo espiritual, já sem esse envoltório, possamos avançar em nossa evolução. Frisou que estamos todos nessa escola da vida para aprendermos a pensar e agir sempre com amor, perdão e gratidão. Essas são as ferramentas que o ser humano, em sua existência, deverá aprender a valorizar mais do que quaisquer outras para seguir livremente seu caminho.










Um desenho de formas (e, naturalmente, todos os obstáculos enfrentados pelos presentes para desenvolvê-lo). Assim começou nosso quarto Encontro pela Paz.

 O tema, "desenvolvimento do ser humano: infância, adolescência e juventude" foi um chamado não apenas à reflexão, mas um convite para que os presentes mergulhassem num oceano de vivências capazes de revolver a biografia humana de cada um, do nascimento à chamada "maioridade", tudo para que a compreensão das várias fases do desenvolvimento do ser humano se apresente de modo coerente. Alonso Campoi, com clareza e didática, foi o guia neste passeio, demonstrando a possibilidade plena de compreensão das sutilezas que demarcam cada um dos três primeiros setênios. 

 Do primeiro setênio pôde ser entendida a necessidade de um ambiente totalmente acolhedor, livre de maus hábitos e onde a criança, para que se desenvolva de forma sadia, vivencie o lado "bom" do mundo. Nesta fase - onde se deve dar predomínio aos contos de fadas - a imitação é a mola propulsora do desenvolvimento, e exige de todos que estejam envolvidos esforços para manter um envoltório ambiental saudável. Já após o sétimo ano o mundo passa a ser "belo", e o ambiente, além de ser saudável, deve, agora, ser a ferramenta para que a criança se sinta parte deste mundo. Estudo do velho testamento, da criação do mundo, tudo de maneira e incutir na criança, aos poucos, a crença de que existe, sim, um mundo exterior e que ela faz parte dele, já de forma mais autônoma. Alonso explicou que num determinado momento deste segundo setênio ocorre algo muito delicado, chamado Rubicão, onde a criança experimenta uma crise de identidade, e aquele mundo "bom" que a acolhia por inteiro agora aparece como um mundo onde ela já vivencia seu próprio "eu" de maneira mais presente do que no setênio anterior. Sua individualidade a põe em crise (situação que vai se acentuando até o final deste setênio), mas uma crise necessária de ser vivenciada para que mais tarde não surjam outras crises incapazes de serem respondidas. Também aqui o cuidado com o ambiente é essencial, mas desta feita devemos nos esforçar numa "autoridade com amor". No terceiro setênio, quando a adolescência começa a ceder lugar à juventude, o mundo assume seu lado "verdadeiro". Um sentimento de rebeldia se aflora nos jovens, e o papel do professor e mesmo de todos os que os circundam é o de um "guia", acompanhando o aluno e lhe indicando os limites que podem ser suportados. É nesta fase que devemos colocar o jovem em contato com a vida tal como ela é, mas buscando guiá-lo; os estágios sociais assumem fundamental importância, podendo haver uma canalização da rebeldia inata a esta fase para demandas realmente significativas. Para Alonso, são formas de proteger o jovem da busca pelo "empoderamento" reinante, contribuindo para que sua visão de mundo tenha um significado real. 

 Ao final, uma atividade com os presentes buscou que cada um reconhecesse a importância de transformar em prática a teoria que foi dada, fazendo a citação de três situações concretas e finalizando buscando expressá-las por meio de um desenho de formas.






















Um passeio pela história enfatizando como se desenvolveram as formações econômicas modernas.

 Foi assim que Irceu Munhoz Jr iniciou sua apresentação no 5º encontro pela paz. Irceu presenteou a todos com uma fala clara, coesa e objetiva, sempre ressaltando as relações de poder que se estabeleceram no decorrer do processo histórico e que culminaram com o atual estado de coisas. Para ele, um dos marcos desse processo foi a Revolução Francesa, que trouxe os ideais de liberdade, fraternidade e igualdade, os quais, no entanto, 
acabaram por não ser respeitados em suas individualidades. 

A apresentação foi pautada pelas investigações de Rudolf Steiner, que deram origem à ideia da Trimembração Social: liberdade no âmbito cultural, fraternidade no econômico e igualdade no âmbito jurídico-político! Para Steiner, recolocar esses três ideais de modo a garantir que convivam harmonicamente e atuem de forma eficaz continua a ser o grande desafio da humanidade. Durante as atividades houve o sorteio de livros e os presentes ouviram, ainda, relatos de dois estudantes da Escola Viver, de Bauru, que estiveram participando de um evento na Suiça, em Dornach, falando sobre economia dentro da vertente defendida por Rudolf Steiner. Ao final do encontro os participantes se envolveram em uma dinâmica e, para encerrar, deram seus depoimentos pessoais. Um rico e instigante aprendizado!









Uma abordagem sobre o currículo que se aplica nas escolas Waldorf de início, poderia parecer algo metódico. Assim seria não fosse a primeira "pista" dada por Alfredo Rheingantz: não existe um currículo Waldorf propriamente dito! 

Ao contrário do que se pode pensar Rudolf Steiner não idealizou um currículo para a primeira escola Waldorf. Um curriculo Waldorf é feito de linhas principiológicas, um alicerce que pode ser desenvolvido pelo professor na esteira da leitura que ele faz de seus alunos. Temperamentos, tipos constitucionais, tudo isso é levado em conta pelo terapeuta de sala de aula (sim, um professor Waldorf é um autêntico terapeuta, capaz de compreender cada individualidade que se apresenta diante de si), que ainda se vale do conhecimento antroposófico sobre as etapas do desenvolvimento da consciência humana. Assim, tal como a humanidade evolui - e nessa evolução desenvolveu suas diversas almas (alma da sensação, alma do intelecto e alma da consciência) também o ser humano percorre seu caminho como que inserido em cada época cultural conforme suas etapas de desenvolvimento. 

A criança pequena vivencia, à partir do ensino fundamental, a alma da sensação, e nesse sentido o professor lhe guiará com uma autoridade semelhante à do faraó, guiando seu povo naquela fase, ainda totalmente dominado pelos impulsos do mundo exterior, incapaz de se auto dominar ; já o desenvolvimento da criança à partir dos doze anos encontra seu correspondente no desenvolvimento da alma do intelecto, correspondente à época greco-romana, quando começam a ser abordadas as matérias como a física, geometria, astronomia. Na sequência, o advento da alma da consciência se dá já com o aluno adolescente, entrando no terceiro setênio, quando ao término estará ele "maduro" para um atuar consciente. Aqui entram a sociologia, a filosofia, aprofundam-se as artes e nas ciências exatas. É quando os alunos desenvolvem a capacidade de julgamento e se expressam de maneira mais consciente. O teatro é um dos meios mais completos de desenvolvimento, onde se juntam todas essas possibilidades. 

Portanto, longe de ser metódico, monótono, o currículo de uma escola Waldorf oferece infinitas possibilidades de contribuição no processo de desenvolvimento da consciência e na formação dos valores dos alunos, fomentando habilidades e talentos e não só transmitindo informações que hoje em dia estão totalmente acessíveis pela internet.







Na sequência Cláudio Bertalot falou sobre as diferentes consciências em relação aos atos humanos, consciências estabelecidas por natureza e consciências conquistadas, sob a ideia de cosmogonia de Rudolf Steiner. 

O palestrante nos remete a um pensar vivo, que seja capaz de incluir o que o coração (sentimento) anseia e o que as ações querem vir a ser, em contraponto a um pensar morto, excludente do que o coração aspira e do que aspiram as ações, e que acaba por dificultar com que nos aproximemos mais do outro. Ressalta duas características básicas de todo e qualquer pensar: a de que pensando eu me percebo a mim mesmo, já que sou eu que penso; e outra, a de que pensando eu posso perceber o pensar, já que ele é um produto do meu ato pensante.

 O pressuposto para diferenciar um pensar morto de um pensar vivo é verificar a relação do pensar não apenas com os objetos sensoriais, mas também com os não sensoriais do mundo. Isso porque o pensar não se trata apenas de um ato do sujeito, mas ao mesmo tempo encerra, também, um conteúdo, um produto, engendrado, segundo as suas próprias regras, por esse ato. Aí o pensamento “penso, logo existo” também poderia ser formulado como “posso duvidar da existência de tudo, só não posso duvidar de que eu esteja duvidando”.








Lúcia Caldas foi a convidada do penúltimo Encontro Pela Paz do ano de 2013. Ela falou sobre a visão da ciência antroposófica acerca do caminho percorrido desde a concepção do ser humano até sua reencarnação, passando pelo processo desencarnatório (morte de nosso corpo físico). Pontuou as diversas matizes que orientam tal caminho à partir de diferentes enfoques religiosos, e explicou o significado da questão crística para a humanidade, permeando toda a sua fala com exercício meditativos. 

Trouxe, aos presentes, uma profunda explanação centrada no poder do sentimento de amor, capaz de superar qualquer opção religiosa.









Michael Mosch, encerrando o ano,  falou sobre autoeducação e autodesenvolvimento, salientando as lições deixadas por Rudolf Steiner que permitem um meditar consciente como forma de ir além da realidade sensorial. 

Mosch, aproveitando a estada, proferiu um workshop sobre agricultura orgânica, no espaço onde está sendo concebido um projeto de ecovila.





Fechamos o ano de 2013 com a plena consciência que os temas tratados nos Encontros Pela Paz foram, para muitos, de extrema complexidade; para outros, já familiarizados com a visão ampliada pela Antroposofia, nem tanto.

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